terça-feira, 6 de abril de 2021

A dor do outro não é mimimi

Há algum tempo o BBB deixou de ser nosso “momento de alienação” para esquecer das mazelas da realidade. Quanto mais gente participa do programa e se mostra disposta a “ser como é”, mais vemos que nem todo “ser como é” é bom. 

Justificar uma fala ofensiva, racista, e minimizá-la porque ela não ofenderia a outra pessoa é presumir que todos sentem tudo da mesma maneira. Não sentem. Quem enfrenta olhares, situações e até políticas públicas que o invisibilizam e o ferem diretamente sente muita dor quando uma “brincadeira inofensiva” lhe é direcionada. 


Quem nunca viu sua pele, seu cabelo, seu físico ou sua orientação sexual serem motivos de chacota não sabe o quanto isso é emocionalmente cansativo. É doloroso.


O mundo tá chato? Talvez esteja mais chato para quem nunca se importou se suas brincadeiras ou palavras pudessem causar a dor (que sempre causaram) a alguém. Mas agora os machucados têm mais ferramentas para se unir e dizer o que machuca.


A dor do outro não é mimimi.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Uma nova listinha

Curiosamente, voltar a escrever no blog foi o último item da famosa listinha de resoluções em minha versão 2019. Porque escrever é super cult, e alguém saído de um curso de Letras deve, pelo menos a título de redenção perante trabalhos bem menos nobres do dia a dia, ser capaz de expressar-se em textos leves, divertidos, cheios de significado.
Tá, nem tanto. Na verdade estava num blog que há algum tempo não lia, o da Ruth Manus no Estadão - putz, o povo vai migrar pra lá e nunca mais volta aqui - e pensei “nossa, que delícia de textos”. Enfim, lembrei das tantas vezes em que meus escritos foram elogiados, e todo mundo quer um pouquinho de elogio, né? Alivia a tensão, acaricia o ego e dá uma neutralizada na ansiedade. Confesso: este último é o maior dos motivos.
Das listinhas e do objetivo de escrever em blog. Virada de ano é aquele vuco-vuco no interior de quem tem ansiedade. Quer coisa que te projete mais para o futuro do que virada de ano? É prato cheio pros ansiosos que vinham se recuperando bem nos insossos meses de outubro e novembro. Aí vem dezembro com uns tabefes de incerteza: o que será de 2019? E o futuro governo, hein? Vou ter tempo de nadar às terças e quintas? Eita, que não tem feriadão ano que vem… Tenho que terminar logo de pintar aquele armário, pendente desde o ano passado! A do armário é bem ridícula, porque ano passado foi praticamente anteontem.
Então, pra aliviar a tensão, a gente faz listinhas. Podem ser temáticas (casa, trabalho, viagens, saúde etc.) ou aquela geralzona mesmo, que mistura “preencher currículo no Lattes” com “marcar podólogo” e “pesquisar limpeza de colchão”. O lance é que ter uma lista ajuda (alguns) a se aproximar desse futuro tão incerto, tão sem-quando, e o deixa ali pertinho ó: no bloquinho à mão ou na Área de Trabalho. Ufa, que bom! Já escrevi o que quero fazer este ano, e agora é só começar. Já já, deixa eu só dar uma olhadinha no Face e responder o direct no Insta...

sábado, 1 de agosto de 2015

Um e Outro


Um já pertencia às águas, mas havia tempo que não experimentava a calmaria. Outro nunca tinha sentido o sal do mar na pele, mas achava que navegar não o levaria a lugar algum.
Se encontraram de repente e rapidamente, a mil quilômetros do mar e do amar, num dezembro despretensioso. Nem sequer ouviram a voz Um do Outro.
Se reencontraram numa aventura, numa noite de maio do Cerrado, mas ainda com o coração cerrado. Um fez apenas o que gostava e costumava fazer: ouviu. Outro fez o que nunca tinha feito com ninguém: falou. Ainda não era um mergulho, mas ambos molharam os pés na beirinha.
Na terceira vez, mergulharam de cabeça. No Atlântico, um oceano de afeto. Entregaram-se e permitiram-se ser exatamente como gostariam. Um lembrou de como era bom sê-lo. Outro o foi naturalmente, e não mais sozinho.
Os olhos brilharam e Um se viu nos olhos úmidos do Outro. As mãos se atraíram e se separavam apenas para que Um tocasse o Outro no rosto, no cabelo, no corpo. Um e Outro retribuíram.
Um sentia-se mais forte, mais pleno, mais inteiro. Outro sentia-se mais corajoso, mais acolhido, mais livre. Um e Outro disseram isso tudo, algumas vezes, em palavras, biscoitos, selfies e silêncios.
Foram bravos e navegaram contra o tempo implacável. Braçadas intensas de quem sabia que a maré estava pra mudar e era preciso aproveitar o momento. Carpe diem et carpe noctem, Um teve o Outro para livrá-lo da tormenta; Outro teve Um para sentir-se ondular.
O gozo e o encanto alternavam-se e vinham com trilha sonora – há tanta vida lá fora e aqui dentro sempre como uma onda no mar. Um quis um pouco mais e Outro, também.
Ao fim da viagem, precisaram retornar à terra firme e não puderam escapar da arrebentação. Deixaram o mar e um mar verteu dos olhos de Um e de Outro.
Um segue com os pés na areia fofa, pensando sobre as marcas que deixa, perdendo de vista o horizonte que tanto admira mas que desconhece. Outro segue rumo à terra vermelha, pensamento alto, planalto, pensando quão alto vai chegar.
Um e Outro querem voltar a viajar, querem a imensidão do mar. Um e Outro sabem que se lançar ao mar é sujeitar-se ao vento. Um e Outro esperam ansiosos e saudosos pela próxima vez em que poderão mergulhar juntos. Juntos messsmo. Ou mermo.


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Aprendi no Quadradinho


Depois de exatos um ano e 40 dias morando em Brasília, estou voltando para a Cidade Maravilhosa. Animado, com o bolso mais vazio, os olhos cheios d’água, mais ansioso que o normal, pensando em tudo que vou precisar recomeçar. Mas tem o inalienável, o sem preço: a bagagem, a experiência, tudo que aprendi. E a lista é longa.
Aprendi que morar em uma cidade tão distante do mar me deixa mais desorientado do que eu imaginaria.
Aprendi que sinto mais falta do meu irmão do que eu imaginaria.
Aprendi que as pessoas em Brasília não gostam muito de abraçar, não são muito de sorrir e cumprimentar sem motivo, mas que eu sou chato, insistente (e carismático?) o suficiente para ensinar isso a elas.
Aprendi que não adiantava ficar triste quando me diziam “Vai naquele Parque, que é legal”, e o que eu esperava ouvir era “Vamos naquele Parque, que é legal”. O lance era se aventurar na Rodoviária do Plano Piloto e chegar aonde eu quisesse. E eu cheguei. Os parques do DF me viram sorrir, chorar (um bocado), correr, pedalar, nadar, paquerar, dar uns amassos e viver momentos que vou recordar para sempre.
Aprendi que adoro o caos do Rio de Janeiro, mas que há, sim, outras maneiras de se organizar a urbe, e o modo cartesiano de Brasília, no fim das contas, tem um charme único. É prático dizer “215-A-103” e todos saberem onde é. As quadras residenciais do Plano Piloto são uma delícia e trazem qualidade de vida. Falta “movimento” na rua? Falta. Falta um pouco de vida, mas agradeci inúmeras vezes a Deus por ter morado em um lugar bom, seguro, perto do Lago Paranoá e cheio de árvores.
Aprendi que uma coisa é a solidão de uma viagem de 2 semanas mochilando no exterior, com data pra voltar. Outra coisa é a agonia de estar a 1.000 km do parente mais próximo e se ver em um hospital público, que no DF é tão ruim quanto no Rio. Ou num dia de Natal. Ou num feriado, quando a população de Brasília evapora. Ou em inúmeros fins de semana apáticos e tediosos. No fim das contas, transformei o limão em limonada (às vezes em caipirinha) e a solidão me fez repensar profundamente muitos medos, sonhos, prioridades, sentimentos, apegos.
Enfim, uma revisão completa, tintim por tintim, que, de repente, foi o necessário para que eu desse algumas reviravoltas importantes. O adeus aos tarjas pretas, a volta às piscinas e, consequentemente, mais leveza, mais confiança, mais amores, mais sexo. Nada como um sacode da vida!
Me livrei de muitos medos... mas os substituí por medos novos. E aprendi que vai ser sempre assim. Que o mito da vida resolvida aos 30 é tolice, mas que não adianta saber disso aos 18. É preciso chegar à tal crise dos 30 para entender que a vida não vai estar resolvida nunca, que só o que a gente faz é mudar, mudar e mudar. A isso se chama “estar vivo”. Ô coisinha complicada.
Aprendi que paradigmas só se quebram na prática... e como eu os quebrei aqui. Mais de um ano absolutamente fora da zona de conforto e tudo foi novo. Novos (e especialíssimos) amigos, novo emprego, novo Grupo Escoteiro com novas crianças, novos hábitos e tantas novas maneiras de fazer as coisas que eu já considerava engessadas, consagradas, consolidadas.
Aprendi que o sotaque carioca é MUITO charmoso, sexy, inconfundível, e quase sempre é uma excelente forma de quebrar o gelo dos brasilienses, que adoram ouvir um chiado ou um “mermo”. Aliado à “pegada carioca”, em 99% das vezes, o sotaque é imbatível. Entendedores entenderão.
Aprendi a gostar do Eixão aos domingos e do Olhos D’Água em qualquer dia da semana. Isso foi o mais fácil.
Aprendi que umidade é algo a que os cariocas podem passar uma década sem prestar atenção, mas que faz diferença por aqui – e muita. Também por isso aprendi, durante a seca, a não andar rápido na rua, a procurar as sombras, a beber água, beber água, beber água e... beber água.
Aprendi que Brasília foi realmente feita para carros, porque o metrô é precário, lento, pequeno, e os ônibus, mesmo com a frota renovada, ainda precisam melhorar muito para atender à população com a qualidade que ela merece. Mas sou feliz por ter usado o transporte coletivo todo dia enquanto morei aqui. Conheci pessoas e dei boas risadas nos zebrinhas!
NÃO aprendi a fazer tesourinhas... e, mesmo de bicicleta, errei absolutamente todas as vezes em que tentei usá-las para “fazer o mesmo caminho dos carros”. Mas foram muitas descidas alucinantes sobre duas rodas em várias tesourinhas.
Aprendi que Brasília é uma cidade super tolerante à diversidade sexual e musical, terra de muitas tribos. Pena que várias delas estão fechadas em panelinhas ou trancafiadas em clubes, apartamentos, casas e mansões. Ainda assim, quando saem à rua, ao Parque da Cidade, ao CCBB, à Esplanada, essas tribos dão um colorido à cidade que só perde para o inigualável céu do Cerrado. Que céu...
E aprendi que um ano pode ter sido pouco para conhecer tudo que Brasília oferece, mas me foi suficiente para crescer, amadurecer um bocado mais e voltar pro purgatório da beleza e do caos. Levarei para sempre o “quadradinho” no coração, ainda quero conhecer muito desse mundo, mas morar... ah, morar é no Rio!

sábado, 21 de setembro de 2013

O porquê do sumiço

Mais por procrastinação do que pela correria da vida, há tempos não escrevo algo que considere realmente bom. O ofício de tradutor de notícias me faz ler muito, mas muito mesmo. Reportagens de página inteira, pequenas notas de editorias, inúmeras consultas a dicionários virtuais, fóruns de discussão e até postagens no Facebook fazem parte agora da minha rotina de verter para outra língua textos cujos leitores até hoje desconheço – textos que nem sei se posso chamar de meus.
Denúncias de espionagem, a reação da presidente, números da inflação, programas do governo e outros temas me levam a escrever meio mecanicamente, tão tecnicamente que sinto falta do tempero das emoções, da vontade (ou da possibilidade) de imprimir um estilo próprio ao que me sai do teclado. O Ministério da Criatividade adverte: apenas traduzir pode enferrujar o vocabulário ou, em doses elevadas, tornar opacos os olhos e secar a saliva.
O que houve com as divagações sobre sentimentos, a imperfeição humana, a injustiça das relações interpessoais, as inquietudes da alma, a ansiedade do espírito e tudo o mais? Sumiu? Não, foi perversamente engavetado por mim mesmo. Talvez tenha sido parte de um processo de endurecimento para fazer frente a tantas mudanças que vêm acontecendo e em um ritmo tão acelerado – cada um se defende como pode. Quando a angústia é muita, tentar expressá-la pode ser ainda mais doloroso e a tendência acaba sendo o silêncio.
Mas não se pode calar o pensamento. Parece, inclusive, que quanto menos se abre a boca ou se move a caneta, mais se atiça aquele monstrinho que habita nossas mentes, multiplicando-se as perguntas, as respostas, as não-respostas e tudo o que deriva de um incansável e, por vezes, exaustivo fluxo de reflexões. “Tente não pensar nisso”, alguém dirá. É tarde. Só de tentar não pensar, já pensei.
Que será melhor, então? Verborragicamente escrever tudo que acho e sinto a respeito de mim mesmo e do que me cerca? Ocupar-me fisicamente para não ter muito tempo de avaliar cada dia e cada semana como se fosse um desafio hercúleo? Não acredito que alguém possa me dar a resposta, porque ela é tão pessoal, imutável e insuficiente quanto… eu e meus questionamentos.
Haja maturidade, desprendimento e endorfina para tocar um barco desses, mas é preciso tocá-lo, por falta de opção melhor. Voltei a escrever.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Essa noite vou rezar pela presidente

Podem me xingar, dizer que sou tolo ou inocente, podem discordar, mas essa noite vou rezar pela presidente Dilma Roussef. 

Para que, ao deitar a cabeça no travesseiro, ela seja atormentada por uma voz que lhe diga "sou a líder desse país, sou a líder desse país". Para que ela faça uma intensa, profunda reflexão sobre o que está acontecendo nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza.

Para que ela se lembre do poder que tem nas mãos, poder dado por milhões, muitos dos quais se sentem hoje frustrados, revoltados, decepcionados... e não representados.

Para que ela se lembre de seu passado - por mais controverso que tenha sido - e do seu presente: ela É a líder legítima desse país, já entrou para a História e pode fazê-lo de forma brilhante se evitar mais mortes, se der respostas à população, se entender que, além de ser muito bem paga pra isso, tem que ser a presidente que se comprometeu a ser.

Para que amanhã, às 9h30, em sua reunião de emergência com ministros que, provavelmente, pensarão em como livrar suas caras e/ou em como "acalmar a população", seja ela a bater na mesa e assumir, de verdade, as rédeas desse governo.

Se ela vai mudar o país amanhã? Não vai. O esquema é muito maior, o sistema é poderoso e implacável. Mas ela pode impedir mais desgraças, ela pode fazer mais. Ela tem que querer fazer mais, e fazer a todo custo.

A anarquia nunca foi solução e as verdadeiras transformações só vão ocorrer quando todos souberem votar com consciência, mas o primeiro passo foi dado. Agora, é hora de se organizar.

Talvez de pouco adiante a minha oração, mas minhas crenças me dizem pra fazê-la, porque há gente sendo ferida, há bombas explodindo e gente oportunista vandalizando. 

Amanhã, vou continuar exercendo minhas profissões dignamente, vou continuar sendo voluntário na educação de jovens e espero que minha líder acorde sabendo que há muita gente que depende da força dela. E que Deus proteja o Brasil.

domingo, 26 de maio de 2013

De repente, 30?

Desde que me percebi no que alguns chamam de crise dos 30 – e acho que isso começou assim que fiz 29 –, li diversas referências ao "De Repente, 30", de quem passava pelo mesmo momento. Bom, não sei quanto aos demais, mas não foi de repente comigo, não. Definitivamente.
Pra chegar aos 30, encarei quase 11 mil dias de uma convivência bastante conflituosa comigo mesmo. Uns dias mais fáceis, outros mais difíceis, mas sempre repletos de sentimentos autênticos, fossem coerentes ou contraditórios. Estive em lua de mel e em vias de divórcio com meu eu interior e considero essas bodas um verdadeiro Nobel da Paciência e Perseverança.
Ao longo da jornada, não foi de repente que acumulei os melhores amigos do mundo. Eles são, e só eu sei quanto. Incluam-se aí, claro, irmãos de alma e de sangue. Acumulei também amores e desilusões, e aprendi, mais ou menos, como podem ser doces, amargos, eternos e fugazes. "Ganhei" e "perdi" pessoas e senti a dor que esses momentos trazem. Também aprendi a olhar pro céu à noite e conversar com quem parece não responder. Pode ser que eu esteja conversando comigo mesmo, mas vai que não?
Ganhei algum dinheiro e gastei pouco comigo. Ainda assim, gastei como achei que deveria, como achei que era o certo a fazer. Mais trinta anos e eu fico rico, será? Três mochilões a menos e eu teria alguma grana a mais – mas não teria algumas das melhores experiências que já vivi e dos lugares mais lindos que já conheci.
Umas dezenas de acampamentos também me fizeram saber que preciso de muito pouco na vida, a não ser um lugar pra dormir seguro, comida básica e boa companhia: humana, literária, musical ou mista. Quase não sou exigente...
Três décadas foram o suficiente pra aprender a amar alguns filmes, ouvir incansavelmente muitas músicas que dizem tudo, ter saudades de ver o mar e admirar os animais – e questionar se ratos e baratas são mesmo criaturas de Deus. Falando em Deus, ainda não deu pra fazer dele um amigão, mas temos feito um esforço pra nos entender. Facilitaria se eu entendesse melhor a língua dele e acredito que esse dia chegará.
Fora isso, muitos empregos, famílias, hobbies, terapias, altos e baixos, uma montanha-russa emocional, como eu costumo dizer. Sendo otimista, posso pensar que cumpri o primeiro terço da vida com algum sucesso e com muito aprendizado, o que não me tornou menos ansioso – apenas menos impulsivo. Às vezes.
Ah, aprendi também que às vezes é a melhor de todas as expressões e só perde pro depende. Comecei a riscar palavras como sempre, nunca, certeza, claro e tantas outras que presumem uma onisciência que, vamos lá, nem aos trinta nem aos trezentos anos alguém pode alcançar.
Pergunto-me se estou pronto pro segundo terço da vida. Não, quem está? Aquela ilusão adolescente de que, com 30, “a vida estaria resolvida” se confirmou como uma ilusão realmente e a torcida agora é outra. Resolver a vida logo? Não. Casar logo? Não. Ficar rico logo? Não. Nada disso. A torcida é só pra que os 40 não cheguem logo! Para que não cheguem “de repente”...

sexta-feira, 15 de março de 2013

Aberto pro Cerrado

Soprou um Vento no Litoral e, de repente, tudo mudou de lugar. Pelo menos por algum tempo, meu destino é o Faroeste Caboclo de Brasília, destino inimaginável para mim, aficionado pelo mar e por tudo que ele me traz.
Quase sem Querer, aceitei a proposta, sem refletir muito, porque já ouvi que a vida é o que acontece enquanto se gasta tanto tempo avaliando o passado e planejando o futuro. Faltam 11 dias para eu saber que nenhum Tempo é Perdido quando se vive um dia de cada vez – um lindo discurso que agora precisa ser colocado em prática. Será só imaginação?
Algumas coisas, mesmo que Só por Hoje, mesmo que Por Enquanto, vão ficando pra segundo plano. É incrível como uma perspectiva de mudança de cidade acelera a prática do desapego: contas de telefone, tênis velho, hábitos, unhas roídas, Pais e Filhos.
Respostas que nem a Via Láctea me dá: e o medo da solidão? Meninos e Meninas? O que você vai fazer Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto, a mais de mil quilômetros de distância do meu? Ainda É Cedo pra dizer? Será que é mesmo só você, que me entende do início ao fim? Ou é de novo o vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi?
Vou guiado pelo instinto, sem dar muita bola pra esperança e pras expectativas contraditórias que ela me traz. Se não sei bem o resultado, talvez seja porque não existe razão... pras coisas feitas pelo coração.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Desses, daqueles, de quem?


De vocês, ora!

Dos que grudaram em mim desde o começo, dos que levaram um tempinho mais, dos que não grudaram, mas sempre me olharam com carinho e respeito.

Dos que concordaram comigo em quase tudo, dos que preferi apenas ouvir e não responder, dos que debateram comigo assuntos tão diversos como frustrações sexuais, ética e moral, didática, o problema do metrô, o sentido da existência humana e a relevância de um Camaro Amarelo. Aprendi com todos.

Dos que, aliás, cantaram comigo as músicas mais cafonas, dos que me disseram o quão cafonas eram as músicas e dos que, quando me aconselharam, foram música para meus ouvidos. Não havia nada melhor que a palavra amiga de vocês quando as diversas e teimosas lágrimas rolaram.

Dos que me “adotaram” quase como filho, dos que eu adotei como quase pais, e dos que me deram o prazer de ser, por vários momentos, quase irmão.

Dos que me deram água e café... e mais água e mais café... e ainda mais água e ainda mais café, quando eu ia trabalhar quase “virado” por passar as noites estudando ou traduzindo.

Dos que compraram meus livros pra eu conseguir viajar, as rifas do Grupo Escoteiro para eu acampar com as crianças e dos que, sem pagar nada, já me têm como seu.

Dos que dividiram comigo as agruras de sair sob chuva da Unicarioca, achar um espaço pra trabalhar na PV, achar uma maleta no quartinho da limpeza na Estácio Uruguaiana e, claro, fazer o AV na Praça XI.

Dos que toparam concurso cultural, campanha de arrecadação de alimentos, gincanas de carnaval, evento no circo, atividades externas e tantas pequenas loucuras que tornaram nossa história mais rica, mais especial.

Não é preciso dar nome a cada um desses, porque cada um fez um pouquinho do muitão que vivi no CIEE. Não acredito em acaso e vejo claramente a importância de ter minha vida cruzada com a de vocês – e isso inclui os que já saíram e os que recém-chegaram.

Vocês fizeram desses dois últimos anos um trecho inesquecível da minha estrada e essa estrada agora cruza um latifúndio emocional, meu coração, onde cada um de vocês tem sua morada, pra sempre. Impossível explicar como me sinto, ao mesmo tempo, tão preenchido pela existência de vocês e tão vazio por não tê-los visto hoje pela manhã. Eu sabia, desde o começo, que esse dia chegaria, mas não tinha a dimensão de tudo que estou sentindo.

Obrigado, obrigado, mil vezes obrigado! Prometo não sumir, prometo escrever, prometo brilhar e lutar pelo que é mais importante: deixar esse mundo um pouquinho melhor do que o encontramos.

Deixo essa música-homenagem pra vocês, pois a letra dela sempre me inspirou. Até breve! Deixo também meu amor e vou tocando em frente...

Léo Vieira


TOCANDO EM FRENTE – Almir Sater

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Ou nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs

É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs

É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs

É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Panela de Pressão

Não, não. Não é uma analogia ao aquecimento global, mas ao aquecimento mental. O planeta sofre as consequências da ação humana; os homens sofrem as consequências do mundo que criaram.
Também não quero voltar no tempo. Adoro poder pagar minhas contas pela Internet; o que não gosto é da quantidade de contas que tenho. Adoro poder me comunicar em tempo real com amigos na Coreia do Sul; não gosto é da tendinite, mal dos que abandonaram os selos e os envelopes. Curto muito a globalização do mercado editorial, mas dava pra abaixar o preço dos livros? Nada como poder tirar e publicar quantas fotos eu quiser, mas, por que raios, tenho que “etiquetar” todo mundo nelas?
E, hoje em dia, nada mais demora como na época do fogão a lenha. Vai tudo como na panela de pressão: ao mesmo tempo, misturado, rápido! E ai de quem se arrisque a preferir o fogo brando: será atropelado pelas cobranças, em boletos bancários e ligações da família. Será tachado de incompetente, insensível. Se não abrandar, aí é irritado, invisível, incomunicável. É muito “i” nessa receita da vida!
Mas é no fim da jornada diária, seja o fim à noite ou pela manhã, que bate a azia da indigesta correria em que se transformou a rotina pós-moderna – sim, porque os modernos tinham, pelo menos, tempo pra almoçar. 
Haja estômago pra entender (ou aceitar) que é preciso marcar na agenda, com 5 dias de antecedência, uma visita à casa da madrinha. E desmarcar depois, porque um cliente nas Filipinas pediu uma reunião via MSN pra dizer que não tem como te pagar.
Às vezes cansa ter que agendar coisas que, antes, eram pouco ou nada “agendáveis” (é, desenterrei essa palavra!). Cinema, sexo, supermercado, telefonema pra afilhada, um leite com bolinhos na casa da vovó. E a vizinha do apartamento ao lado pergunta: “você ainda mora aí? Jurava que você tinha se mudado!”
Haja estômago, minha gente. Haja estômago. Haja “tem que”. “Tem que” isso, “tem que” aquilo, “tem que” ser tudo ao mesmo tempo! Mas não adianta. De alguma forma, a gente “tem que” lembrar que dinheiro não compra tempo. “Tem que”, mesmo que seja muito de vez em quando, escrever um textinho de desabafo e atualizar o blog!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sensibilidade Bélica


Há alguns dias venho pensando nessa característica tão minha e tão complicada. É uma das poucas coisas que sei sobre mim: eu me machuco. Não sei como acontece. Já procurei o gatilho, mas me disseram que ele não existe. Já procurei o espelho, mas ele mente pra mim e eu minto pra ele. Já olhei pra fora e não vi resposta alguma. Já olhei pra dentro e fui ofuscado por uma infinidade de perguntas que me enlouquecem, pois são cíclicas, confusas, incoerentes. Incoerentes como eu.

Canalizar as angústias escrevendo não funciona sempre. Aliás, nada funciona sempre e isso me leva de volta à angústia. Escolho não ouvir mais músicas românticas e me sinto seco, carrancudo, áspero por ficar conectado à rádio de notícias o tempo inteiro. Mudo para uma estação mais bate-estaca, procurando me alienar de qualquer sentimento que exceda as rotações por minuto do meu coração. Inútil. Ainda não me conformei com o que parece óbvio: não tenho controle sobre mim; não tenho controle sobre nada.

E eis, então, que tudo me afeta. Nessa sensibilidade bélica, estou, ao mesmo tempo, nos dois lados do front, me bombardeando e correndo em direção à bala; um jogo solitário e doloroso demais para ser levado adiante sem grandes feridas e sem perder a guerra para mim mesmo. Bandeira branca, é tudo que peço. E uns comprimidos, por favor, porque a luta continua. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

A tal ponto

A tal ponto que ando renunciando a tudo por ter sido renunciado e não sei mais o que significa o “tudo” nesse caso.

A tal ponto que sua alegria me incomoda, não sei se por não fazer parte dela ou por saber que não faço, que não chego, que talvez nunca tenha chegado.

A tal ponto que não sei o que é maior, se é minha vontade de ser feliz ao seu lado ou de ver você feliz em qualquer lado, desde que eu não veja.

A tal ponto que amo você mais do que a mim, mas não me surpreendo porque nunca fui lá tão apaixonado por mim mesmo.

A tal ponto que cruzar com seu olhar desmorona, em segundos, meu frágil castelo de confiança que levou dias pra ser construído, mas que não sei muito bem se o fiz para me proteger ou me torturar.

A tal ponto que me sinto doente, ainda mais doente, um inimigo ainda mais forte de mim mesmo e contra o qual achava que só podia lutar estando ao seu lado.

A tal ponto que não sei se prefiro sua voz, mesmo que ela não soe meu nome, ou o silêncio, pra não correr o risco de ouvir o que dói.

A tal ponto que a palavra felicidade parece ser seu sobrenome e isso é péssimo pra mim, porque você já não quer o meu, e não acho que encontrarei um homônimo.

A tal ponto que nem escrever me alivia, nem caminhar me acalma, nem viver me apetece muito; não sinto fome de um prato que não vejo chegar à mesa.

A tal ponto que fumo um cigarro pra baforar o que há de pior em mim sem precisar admitir que não é do tabaco que padeço.

A tal ponto que beber não liberta, chorar não ajuda, falar não acalma, ouvir me tortura e todos os meus sentidos já perderam sentido porque servem a uma alma angustiada, que nenhum corpo aguenta.

A tal ponto que quero dormir, dormir, dormir e dormir, para não ter que acordar e passar mais um dia negociando comigo mesmo qual o melhor a fazer, que caminho seguir, pois não tenho companhia e a vida não é um mochilão solitário.

A tal ponto que pensar o que penso, escrever o que escrevo e sentir o que sinto só tem feito eu me afastar ainda mais do que considero que você mereça – muito mais do que eu, muito melhor do que eu.

A tal ponto que me sinto rejeitado porque tudo que você não precisa é de alguém triste, alguém que deve ter inventado a tristeza – e não há poeta que o faça desinventar.

A tal ponto que nos vejo cada vez mais distante, pois você vibra, vive, faz... e eu só existo. E ponto.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ainda? Por quê?

Porque sempre que eu pensei que tinha começado a me desapaixonar, seu olhar perfeito e seu sorriso na alma me fizeram respirar fundo, olhar pra cima ou pra baixo, e acreditar que seu encanto é pra sempre.

Porque um oceano inteiro de distância não foi suficiente pra desgrudar meu coração do seu, e nunca quis tanto estar por perto.

Porque outras bocas me fizeram apenas feliz, mas a sua boca me faz menino, me faz vulcão, me faz esquecer o mundo lá fora, me faz não querer ir embora.

Porque outros corpos são quentes, mas não me fervem como o seu, que me dá a sensação da medida exata, do ninho eterno, do abrigo inviolável, do ser de um só alguém: você.

Porque ver você me acelera o coração, me esfria as mãos, me treme as pernas, me cerra os olhos, me desarma inteiro.

Porque ouvir você me deixa pasmo, me deixa imóvel, me desconcentra, me sacode por dentro e me faz bobo.

Porque acredito na gente, porque sou insistente, porque não sei do amanhã, mas eu o quero só com você, e por isso espero.

Porque as canções mais bregas continuam me lembrando só você, por saber que você não gosta delas, por ver nelas o nosso passado, o nosso presente e o que espero do nosso futuro.

Porque cada vez que uma mensagem sua chega, minha mão se embola pra abrir o celular, fico ansioso, nervoso, medroso, meloso.

Porque aceito cada migalha do seu carinho e me agarro a ela como a única maneira de tomar fôlego e seguir em frente sozinho.

Porque ainda acho um absurdo não te ver todo dia, não te ouvir todo dia, não saber do seu dia, não estar na sua noite, não te beijar cada vez que te encontro.

Porque não consigo acreditar que seu amor acabou, não quero pensar em outro nome junto ao seu, porque meu nome não combina com nenhum além do seu.

Porque quero acreditar que você só precisa de tempo, que esse é só o pior dos nossos capítulos e que um dia vamos lembrar daqueles meses horríveis em que ficamos separados.

Porque pra escrever esse texto parei mil vezes pra escolher as melhores palavras, pois elas são pra você, e torço pra você perceber logo que ganhou mais uma declaração de amor.

Porque se não te amasse não teria escrito isso tudo e tudo mais que ainda vou escrever.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Em outro apartamento


"Eu espero / acontecimentos / só que quando anoitece / é festa no outro apartamento".

Além de música da Marina Lima, essas palavras também já serviram de mote para uma das incríveis crônicas de Martha Medeiros. E ecoam de tempos em tempos nos meus devaneios, onde festas são raras e a sensação de desconvite é frequente.

Já refleti tanto sobre a não-vocação para ser feliz que hoje, que amo uma pessoa que parece ter inventado a felicidade, a sensação é de cansaço, desânimo e... desconvite. Claro que vejo coisas positivas na vida: adoro estar perto da natureza, sou fã incondicional do mar e da chuva, considero meus amigos os melhores do mundo e tenho um irmão que é um verdadeiro presente de Deus. Só que as árvores não estão na minha cabeça, o mar não mora nos meus pensamentos, a chuva cai sobre minha cabeça mas não irriga meu coração, e meus amigos fazem o possível, mas não têm o poder de eliminar toda a angústia que me afeta - se tivessem, o fariam, com certeza.

A festa é em outro apartamento e meu amor está lá, comemorando sua existência ou talvez (sofro!) sua liberdade reconquistada. Insensível a mim, me surpreende diariamente com os fogos de artifício que emana a cada movimento, a cada dança. No meu apartamento, quando anoitece, só me lembro da festa alheia. O som dos que brindam à vida entra pela janela e me perturbam por competirem com as ininterruptas constatações de que, se era difícil ser feliz sendo amado, é impossível sê-lo sozinho. Tom Jobim já disse isso há décadas...

Eu estava aprendendo, estava sobrevivendo, mas me esqueci de olhar pro lado, me esqueci de dar a mão e talvez de dar valor. Concentrado na sobrevivência física, me esqueci da emocional e fiz infeliz quem me ensinou boa parte do que entendo por felicidade. Na verdade, acho que decepcionei meu professor, pois parece que não aprendi direito esse lance de sorrir, vibrar, casar-se com a noite e deixar fluir. Nota zero em jovialidade, parece que reprovei também em matéria de amor.

E por que se expor escrevendo tudo isso para quem quiser ler? Desejo oculto de piedade? Pode ser. Digo que não quero me abrir pro mundo, mas estou louco para que o mundo – e o amado festeiro – leiam sobre meu sofrimento? Talvez sim. Mas só eu sei o alívio que escrever me traz. Alívio esse que já não acho no chocolate e em outros vícios, mas ainda consigo extrair das teclas do computador. O problema é a duração do alívio: momentos, apenas. Minutos ou horas, dependendo do dia que vivi. Dias ou meses, dependendo da força que eu conseguir acumular. Ou uma noite, que costuma ser a duração da festa no outro apartamento.


sábado, 29 de setembro de 2012

O (in) fiel da balança


Sempre achei que “encontrar o equilíbrio e o meio termo” fosse a chave para tudo na vida, mas essa é uma “verdade absoluta” e verdades absolutas me satisfazem cada vez menos. O tão buscado “fiel da balança”, expressão mais velha do que as minhas incertezas, parece realmente não existir, porque as coisas mais importantes não se podem medir ou pesar – não há balança para elas.

Seria mais fácil se houvesse. Para cada quilo de tristeza, um quilo de risada. Para cada tonelada de solidão (a solidão vem em toneladas!), duas toneladas de amigos, porque é bom ter uma reserva. Os litros de lágrimas também poderiam ser compensados com alguma quantidade de amores, mas como pesar isso? Não há fiel para a balança da vida. Equilibrar o corpo em uma perna só ou equilibrar um elefante sobre um palito de fósforo parecem ser tarefas bem mais simples do que equilibrar o espírito, as dores, as neuras e as emoções.

Aliás, as emoções talvez sejam o que há de menos equilibrável no mundo. Que bom! Se não fosse assim, não existiriam poetas, escritores, músicos, filósofos. Não haveria a arte e tudo que ela proporciona a nós, seres humanos naturalmente desequilibrados e emocionalmente engajados em vencer na montanha-russa de nossa sensibilidade. A vida nos derruba da balança. Somos o (in) fiel da balança.

Como se levantar dessa derrubada? Cada um tem seu caminho: orações, conversas, cafunés, um chopinho na sexta à tarde, um almoço em um sábado de sol, um domingo a observar o mar. Tem mais: uma troca de olhares, um abraço silencioso, um beijo na testa, um beijo na boca, a mão no ombro, uma mão na sua mão. Fácil? Claro que não. Principalmente quando, no outro prato da balança, há culpa, remorso, excesso de rigidez, autoflagelo, baixa autoestima e tantas outras injustiças que cometemos com nosso próprio espírito.

Pode piorar? Pode. Ainda mais quando o mundo nos pede, o tempo todo, para estar “inteiro”. Ora, se tenho que estar inteiro para dar aula, inteiro para estar com a família, inteiro para viver um amor, inteiro para tanta coisa – lamento, mas não dá. Nem eu me conheço por inteiro. Sou fragmentado, bagunçado, confuso, atrapalhado, defeituoso. Por inteiro. Ufa... Parem o mundo que eu quero descer.

Pensei nisto e escrevi esse texto assim, meio improvisado e meio reflexivo. Meio. Desci da balança e, pelo menos por hoje, desisti do equilíbrio. Quero o calor da emoção, a emoção da música, a música do meu amor, o fervor de quem eu amo, o abraço dos que me amam e, se der, um pouco de tranquilidade e paz de espírito. Se não dá para evitar o sofrimento, também não vou abrir mão do dia de hoje e do que ele possa me trazer de bom. Amanhã, penso no amanhã e finjo que é hoje. Se for preciso, esqueço a coerência. Serei incoerente em parte, mas é que quero ser humano. Por inteiro.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Nunca Fui Chuva

Desaba o céu e a natureza, sem mágoa,
Outra vez me fez pensar em você.
A força e o som, que vêm com a água,
Me são tristes, não consigo chover.


Sua ausência me sufoca, e que medo,
Medo infinito de não ler para você.
Sou fraco, em noites e letras,
Começo e paro, me atrevo a escrever.


Se eu fosse chuva, juro que escolhia
Me encharcar de poesia e molhar só você.
Se eu fosse músico, o que eu tocaria,
de tudo um pouco, pra tocar só você.


A chuva parou, me senti escorrer,
Respirei fundo e, no fundo, chorei,
Lembrei do seu cheiro e do cheiro da chuva,
Eu posso, e ela não... esperar por você.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Condicionais

Se ligo a TV, a novela me assusta
Se resolvo não ver, o silêncio me busca
Se decido escrever, só sai o que dói
Se só penso e não falo, o medo corrói
Se a fome não vem, sinto o corpo pesar
Se como, e não quero, quero a mim vomitar
Se me isolo num canto, aumenta a solidão
Se me arrisco, é o mundo, que me aperta o coração

Se ouço uma música, sofro, ela pode ser tua
Se resolvo cantar, embargada, a voz me sai nua
Se rezo pra pedir, peço calma e conforto
Se me distrair, medo, logo quero estar morto

Se me faço promessas, que difícil cumprir
Se só penso no hoje, o que quero é fugir
Se dou espaço pra dor, me permito chorar
Se choro e me entrego, quem pra me levantar?
Se me lembro do que houve, é só do que foi bom
Se procuro esquecer, tua voz me traz som

Se te quero, hoje e sempre, não quero mais desengano
Então, te quero, hoje e sempre, te espero... e TE AMO.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sem resposta


Onde eu estava?

Que não percebi o seu sentimento mudar?
Que não vi ruir o seu brilho no olhar?
Que não ouvi seu alto silêncio gritar?
Que naveguei, mas me descuidei do mar?

Quando foi?

Que me esqueci do que você gostava?
Que não sorri quando você chegava?
Que me calei enquanto você falava?
Que chorei, mas não te abraçava?

Você perceberá?

Que escrever é meu outro jeito de chorar?
Que todo esse doer é meu sinônimo de amar?
Que o que me falta é seu pueril sorriso?
Que preciso é do seu futuro impreciso?

E será?

Que vou acordar e foi só pesadelo?
Que vou desistir de todo esse apelo?
Que um dia você me verá nos seus planos?
Que serão só detalhes esses tais nove anos?

Quem cuida de quem?

     Foi a primeira pergunta que fizera a seu mestre. Até certo ponto, ouviu como resposta, todos cuidam de todos... mas ninguém cuida do que não se pode cuidar.
     A próxima pergunta nem precisou ser feita. A resposta veio logo em seguida e ensimesmou o aprendiz: nem tudo se planeja. Não se planeja amar, não se planeja sorrir, não se planeja o tamanho, profundidade ou duração da felicidade. Assim, por que se poderia planejar o choro, o sofrimento?
     Um segundo de hesitação do aprendiz e ouviu mais um pouco: planeja-se uma carreira, mas nem todos os seus degraus. Planeja-se a construção de uma casa, mas não a de um lar. Em um relacionamento, planeja-se até uma ação, mas é impossível planejar o que não lhe pertence: a reação.
     Assim, não tente, disse ele, planejar a vida alheia, já que a sua própria é cheia de coisas “não-planejáveis”. Muito menos tente roubar, de alguém, o direito de escolha. Todo alguém tem direito de escolher os riscos que quer correr, as aventuras que quer viver, e tem até o direito de escolher a inconsequência, o pagar pra ver, a dar-se sem medida. E você só pode escolher embarcar ou não nessa escolha alheia – mas nunca tentá-la controlar.
     Não é o rio que passa pela vida. É a vida que passa pelos rios. Fique aportado na margem, reme devagar, ou se entregue à correnteza na esperança de encontrar uma linda cachoeira. Só não tente planejar a viagem alheia nem impedir alguém de navegar. É ser tolo, egoísta. E é inútil. Pode te levar a uma vida sem uma única viagem emocionante sequer.
     Ah, quer viajar também? Quer embarcar na viagem de alguém? Quer arriscar conhecer a cachoeira? Permita-se!
     E se o barco virar? Perguntou, por fim, o aprendiz.
   Se virar, virou, disse o mestre. Não chegou à cachoeira, mas pode aproveitar que virou e tomar um refrescante banho de rio. Disse isso e lhe entregou o pequeno pedaço de papel, que o aprendiz leu e entendeu que seria um longo aprendizado:

“Não é sensato achar que um dia tudo dará certo. O importante é agora. Se não atuar completamente agora, não poderá esperar nada no curso de sua vida.” (D. Ikeda)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Mãos

O mar sempre exerceu um verdadeiro fascínio sobre mim. Traz frescor, distrai a mente, dá até conselhos. Paixões e namoros nasceram para mim diante do mar. Mas nunca tinha pensado no que há embaixo: areia.

A areia é o paradoxo do mar; sustenta suas águas mas, sem elas, é o que existe de mais frágil. Um punhado de areia nas mãos nunca é o mesmo punhado por dois ou três segundos. Pois é, nunca se tem tudo sob controle, nem um grãozinho sequer. Aprende isso, menino!

Insatisfeitas com sua condição, lá estão minhas mãos, acostumadas a tocar, pegar, apertar, espremer e só soltar quando quiserem – a mais primitiva das formas de controle. No entanto, é só relaxar a mão um pouquinho e a brisa (!) ou a gravidade levam boa parte da areia embora. A mais difícil pergunta: faço o quê de mãos vazias, agora?

Talvez elas estejam vazias por minha culpa, por essa mania de segurar, por esse medo de abrir e de perder. Reconheço isso, tudo bem, mas minhas mãos estão vazias agora e o tanto que elas faziam antes já não é possível.

Acariciar? Quero carinho, não de mim mesmo. Cafuné? Só se for ao vento, mas a brisa me escapou. Massagem? Em mim mesmo, não é o mesmo.

Mãos vazias dão, ainda, a impressão de estarem atadas – outro paradoxo. Estão livres, é o que dizem os otimistas. É temporário, dizem os esperançosos. Estão trêmulas, é o que vejo. Estão saudosas, é o que eu sinto.

Não há lugar para mãos vazias quando se está amando, pois elas se unem a outras, elas afagam, puxam o travesseiro e o lençol, elas tateiam na cama só pra saber se há alguém mais lá. Não há.

O que há: mãos vazias, cama vazia, casa vazia, cabeça lotada. Há esperança? Há, mas só se eu aprender a manter a mão aberta, pois é assim que, nela, pousam pássaros, pousam amores e amados, pousam outras mãos.

Eu topo, então! Será difícil mas não impossível.

Já estou de mãos abertas. No momento, só as uso para enxugar lágrimas, cobrir o rosto, virar páginas de livros, escrever um texto de desabafo como esse...

Uso também para rezar: mãos abertas e, se for para ventar, que vente!


A dor do outro não é mimimi

Há algum tempo o BBB deixou de ser nosso “momento de alienação” para esquecer das mazelas da realidade. Quanto mais gente participa do progr...