De vocês, ora!
Dos que grudaram em mim desde o
começo, dos que levaram um tempinho mais, dos que não grudaram, mas sempre me
olharam com carinho e respeito.
Dos que concordaram comigo em quase
tudo, dos que preferi apenas ouvir e não responder, dos que debateram comigo
assuntos tão diversos como frustrações sexuais, ética e moral, didática, o
problema do metrô, o sentido da existência humana e a relevância de um Camaro
Amarelo. Aprendi com todos.
Dos que, aliás, cantaram comigo as
músicas mais cafonas, dos que me disseram o quão cafonas eram as músicas e dos
que, quando me aconselharam, foram música para meus ouvidos. Não havia nada
melhor que a palavra amiga de vocês quando as diversas e teimosas lágrimas
rolaram.
Dos que me “adotaram” quase como
filho, dos que eu adotei como quase pais, e dos que me deram o prazer de ser,
por vários momentos, quase irmão.
Dos que me deram água e café... e
mais água e mais café... e ainda mais água e ainda mais café, quando eu ia
trabalhar quase “virado” por passar as noites estudando ou traduzindo.
Dos que compraram meus livros pra
eu conseguir viajar, as rifas do Grupo Escoteiro para eu acampar com as
crianças e dos que, sem pagar nada, já me têm como seu.
Dos que dividiram comigo as agruras
de sair sob chuva da Unicarioca, achar um espaço pra trabalhar na PV, achar uma
maleta no quartinho da limpeza na Estácio Uruguaiana e, claro, fazer o AV na
Praça XI.
Dos que toparam concurso cultural,
campanha de arrecadação de alimentos, gincanas de carnaval, evento no circo,
atividades externas e tantas pequenas loucuras que tornaram nossa história mais
rica, mais especial.
Não é preciso dar nome a cada um
desses, porque cada um fez um pouquinho do muitão que vivi no CIEE. Não
acredito em acaso e vejo claramente a importância de ter minha vida cruzada com
a de vocês – e isso inclui os que já saíram e os que recém-chegaram.
Vocês fizeram desses dois últimos
anos um trecho inesquecível da minha estrada e essa estrada agora cruza um latifúndio
emocional, meu coração, onde cada um de vocês tem sua morada, pra sempre.
Impossível explicar como me sinto, ao mesmo tempo, tão preenchido pela
existência de vocês e tão vazio por não tê-los visto hoje pela manhã. Eu sabia,
desde o começo, que esse dia chegaria, mas não tinha a dimensão de tudo que
estou sentindo.
Obrigado, obrigado, mil vezes
obrigado! Prometo não sumir, prometo escrever, prometo brilhar e lutar pelo que
é mais importante: deixar esse mundo um pouquinho melhor do que o encontramos.
Deixo essa música-homenagem pra
vocês, pois a letra dela sempre me inspirou. Até breve! Deixo também meu amor e
vou tocando em frente...
Léo Vieira
TOCANDO EM FRENTE – Almir Sater
Ando devagar porque já tive
pressa
E levo esse sorriso porque
já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza de que
muito pouco eu sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas e as
manhãs
O sabor das massas e das
maçãs
É preciso amor pra poder
pulsar
É preciso paz pra poder
sorrir
É preciso a chuva para
florir
Penso que cumprir a vida
seja simplesmente
Compreender a marcha e ir
tocando em frente
Como um velho boiadeiro
levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela
longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas e as
manhãs
O sabor das massas e das
maçãs
É preciso amor pra poder
pulsar
É preciso paz pra poder
sorrir
É preciso a chuva para
florir
Todo mundo ama um dia, todo
mundo chora
Um dia a gente chega, no outro
vai embora
Cada um de nós compõe a sua
história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
Conhecer as manhas e as
manhãs
O sabor das massas e das
maçãs
É preciso amor pra poder
pulsar
É preciso paz pra poder
sorrir
É preciso a chuva para
florir